O e-commerce Magalu lançou a categoria Bem-Estar Sexual, que oferece produtos que vão de óleos íntimos a vibradores em seu marketplace. De acordo com a consultoria KBV Research, esse mercado deve chegar a US$ 125 bilhões em 2026. Por fim, os clubes de assinatura de produtos eróticos também têm feito sucesso, e um bom case para se inspirar é o SC.Box.
Mercado de produtos eróticos cresce 50% durante a pandemia
“As mulheres estão buscando mais prazer feminino e reivindicando que o homem não é o único que tem de desfrutar do sexo e que elas também querem sua parte do sexo recreativo, que esteve proibido para elas por tanto tempo”. Estes foram os termos usados em buscas por conteúdo mais populares entre as mulheres no último ano, segundo o Pornhub. Mas ainda que vários setores desta indústria concordem que o consumo do produto entre as mulheres aumentou, alguns produtores de pornografia com perspectiva feminina, como Erika Lust Film, dizem que a sondagem do Pornhub e do Redtube não é científica e questionam os resultados. “O aspecto da saúde física e mental costuma ficar escondido por trás de abordagens eróticas, e que contribuem para manter como tabu, um assunto que deveria ser tratado de maneira natural, afinal, o sexo é a base para a nossa existência”, afirma Mariana Castriota. Outro exemplo de pequena empresa é o sex shop Bis.Coitando, focado em bem-estar sexual e inclusão. Na categoria das microempresas, a Na Ponta da Língua é um exemplo de empresa nova que explora as redes sociais para vender online.
Exemplos de sucesso no mercado erótico
O que é bem diferente, segundo Lumertz, já que o produto erótico é focado no estímulo ao bem-estar sexual, a independência e autocuidado da mulher. “Como eu trabalho com os produtos eróticos, eu recebi de muitas pessoas as cenas da personagem da novela se masturbando e, desde então, tenho visto em todas minhas redes sociais trechos de cenas e frases da personagem da Andrea Beltrão. Acho que está influenciando positivamente as pessoas, é mais uma forma das mulheres se conhecerem e buscarem o seu próprio prazer”, incentiva Natália. Essa mudança cultural pôde ser sentida pelo mercado de comercialização de produtos sensuais, principalmente pelos e-commerces.
Mas o que é o mercado de bem-estar sexual?
Salta aos olhos que, através desse fenômeno em que há uma espécie de retro-alimentação entre demanda e oportunidades, as normatividades sexuais que regulam o controle da sexualidade feminina estão sendo modificadas. Inegavelmente, estamos assistindo a uma valorização dos bens eróticos e por iniciativa de mulheres (como produtoras, comerciantes e consumidoras). Importante não desconsiderar o fato de que se trata, na maioria, de mulheres heterossexuais, com bom poder aquisitivo e não tão jovens. O mercado erótico deve fechar este ano com faturamento acima de 2 bilhões de reais, no Brasil. A projeção é de crescimento de 4% nas vendas, em relação ao ano passado, apesar de todas as restrições ao comércio durante o isolamento social. Alguns produtos chegaram a ter aumento de 50% nas vendas nos primeiros meses de quarentena.
Nesse mercado erótico operam referências ao que é permitido e ao que é proibido em termos sexuais, jogando com os sentidos evocados ora em uma direção, ora em outra. Difícil e analiticamente irrelevante avaliar se um segmento desse mercado é mais transgressor que outro ou se a obscenidade foi abstraída de uma de suas versões. O que importa é olhar para essa rica cultura material e prática de forma a decifrar suas tensões, fissuras e, sobretudo, o movimento dialógico de suas convenções. Como se sabe, o mercado de consumo, sobretudo, a partir dos anos 50, foi consolidado por e para mulheres. Sharon Zukin (2005) salienta que é preciso ter em mente o papel produtivo das mulheres no consumo de massas, não apenas como consumidoras, mas como estilistas, gerentes, publicitárias e especialistas em marketing.
A divulgação e disseminação de informações na mídia sobre o assunto também colaboraram e ainda colaboram para a expansão do setor. Assim como a imprensa vem trabalhando para quebrar esse tabu, personalidades famosas falam sobre o assunto cada vez mais e com naturalidade e até a dramaturgia tem feito seu papel. Um exemplo é a recente cena da novela da Globo, Segundo Sol, que mostrou a atriz Andrea Beltrão interpretando Rebeca, uma mulher mais velha, se masturbando em horário nobre da TV aberta. Pablo Dobner alega que o único propósito do estudo é promover os sites pornográficos gratuitos na internet.
As mulheres, muitas vezes, também se preocupam mais com o prazer do outro e em como se aperfeiçoar para dar esse prazer. E geralmente são elas que procuram acessórios que ajudem a apimentar a relação, sair da rotina ou mesmo dar mais prazer para ambos”. Entre os 480 produtos na loja, a Egalité também vende produtos relacionados à higiene pessoal e cuidados íntimos da mulher, porém não possui as mesmas condições que os e-commerces voltados à saúde e beleza.
Para finalizar, resta assinalar que o meu material de pesquisa tem indicado com clareza que no Brasil o conteúdo do erotismo politicamente correto sofre um processo de re-significação bastante intrigante. Ainda que tenha aumentado significativamente a oferta de sex toys, como vimos com o mapeamento dos circuitos de produção nacionais de dildos e vibradores, não verifico a mesma ênfase na genitalidade, se compararmos ao universo investigado em São Francisco. Aqui, lingeries e fantasias são os produtos mais visíveis, sobretudo nos nichos de bairro e nos de elite. Esses itens de consumo não aparecem nos sex shops investigados nos Estados Unidos. Lá, encontrei roupas e acessórios relacionados exclusivamente ao sadomasoquismo.
As mulheres são um excelente público-alvo porque veem nos produtos eróticos uma via de empoderamento, e estão dispostas a explorar sua sexualidade antes reprimida. Ao contrário de tudo o que foi ensinado (ou não) para as mulheres, a nova leva de marcas eróticas defende o contato natural com a sexualidade. Com o discurso, veio a formulação de Pênis vibrador produtos que fazem bem tanto para si quanto para o planeta. “A pandemia tem nos mostrado o quanto a maneira como nos relacionamos com o consumo nos define e vai definir o futuro. Daí, faz todo o sentido optar por itens que sigam as normas ambientais de preservação e respeito aos animais”, aponta a ginecologista Cidinha Ikegiri (@cidinha).
Mas os homens também têm ficado mais curiosos a respeito desse setor, assim como os idosos, o público LGBTQIA+, e até mesmo o público gospel. Então, é importante pesquisar muito e entender como funciona esse setor com um olhar livre de preconceitos e uma visão de empreendedor. Além disso, a migração generalizada para o e-commerce contribuiu para aumentar ainda mais as vendas. A maior parte são mulheres (76,13%), e quase metade (47%) trabalha por conta própria, sem funcionários.
Os principais públicos que impulsionaram o setor foram casais que passaram a conviver mais intensamente na quarentena e solteiros que aproveitaram o isolamento para explorar sua sexualidade. Segundo uma pesquisa do Portal Mercado Erótico divulgada na PEGN, o número de empreendedores que atuam no setor triplicou, chegando a 100 fornecedores, 9 mil pontos de vendas e 50 mil vendedores. O mercado erótico vem crescendo na mesma velocidade em que os tabus são quebrados na sociedade.
As revistas femininas, com reportagens que discutem abertamente sexualidade e comportamento, são apontadas como fundamentais para ajudar a quebrar tabus. Outros fatores importantes são o acesso à informação e a vontade de ter uma relação saudável com o parceiro. Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Produtos Eróticos e Sensuais, em 1997, constatou que 95% das mulheres tinha vontade de entrar em uma sex shop, mas a timidez as impedia de ir em frente. Para atender ao público crescente, começaram a pipocar pelas cidades brasileiras as sex shops femininas, batizadas de butiques eróticas.